Autor e Obras
29/09/2012
CARLOS GOMES (Campinas, 1836-Belém do Pará, 1896)
Il GUARANY - Protofonia
Conta-se que Carlos Gomes teria encontrado Il Guarany, storia dei selvaggi del Brasile nas mãos de um vendedor ambulante em uma praça de Milão, o que o teria inspirado a escrever uma ópera baseada no romance de José de Alencar. Mas, ao que tudo indica, ele já tinha em mente há algum tempo escrever uma ópera sob este tema tão exótico para o público italiano. O fato é que para realizar esta obra havia o impedimento de ser em português, língua pouco conhecida na Itália. O libreto da sua nova ópera só se concretizou após haver encontrado a tradução do livro de José de Alencar para o italiano. Assim pode entregar o texto a um libretista e a partir daí iniciar a composição da ópera.
Após a conclusão do trabalho, apresentou-o ao Teatro alla Scala de Milão, que aprovou a montagem da ópera. Após muitas dificuldades, a ópera subiu à cena na temporada de 1870, despertando grande interesse no público italiano, em parte por sua temática exótica, em parte pela utilização de melodias e orquestrações pouco comuns, mas de excelente feitura. Entretanto, nesta época ainda não havia sido incorporada a abertura instrumental, ou Sinfonia, ou, como é mais conhecida, a Protofonia. Esta foi agregada posteriormente e nela são apresentados os diversos temas que aparecem na ópera.
Canções de Carlos Gomes
• Addio (3´)
• Mama dice (3´)
• Mon Bonheur (3´)
Além das óperas, as canções com piano foi o único gênero a que Carlos Gomes se dedicou com mais assiduidade. Escreveu diversas delas, algumas em português, outras em italiano e até em francês, como é o caso de Mon bonheur.
SALVATOR ROSA
• Sinfonia (5´) (Orquestra)
• Canzonetta Gennariello, ato I N° 2, “Mia piccirella”
• Romanza Isabella, ato III N° 29, “Alla infelice su ora sol rea d´amor”
Il Guarany foi um grande sucesso, mas Carlos queria avançar e compõe Fosca, que estreou no Scalla em 1873. Sem repetir as fórmulas consagradas, criou uma partitura vigorosa utilizando temas recorrentes, orquestração sólida e um tratamento vocal inovador, com grandes saltos e harmonias ousadas. A despeito de sua indiscutível qualidade musical, Fosca não teve boa repercussão, provavelmente por supostas tendências wagnerianas, um acinte na Itália da época. Esse erro seria reparado em uma nova montagem em 1878, mas o compositor viu-se obrigado a deixar as ousadias de lado e criar outra partitura mais melódica e menos sinfônica. Salvator Rosa de 1874 estreou em Gênova com bastante sucesso e apesar de ter sido o mais rendoso de seus trabalhos, a predileção do compositor sempre foi a Fosca.
COLOMBO - Poema vocal-sinfônico (Rio de Janeiro, 1892)
• Intermezzo ato IV, “nell isola” (Orquestra) (5´)
• Aria Colombo, ato I “Era un Tramonto d'oro”
• “Suspiro d´alma” (Solista: Camila Titinger) (3´)
Após compor a ópera Condor, a única que escreveu por encomenda, Carlos Gomes tinha uma nova ópera em mente. O enredo seria ambientado no México e a ópera teria o nome da personagem principal, América. Mas quando soube que naquele ano de 1892 a cidade de Gênova, onde nasceu Cristóvão Colombo, promoveria grandes festas pelo quarto centenário da descoberta da América, das quais constaria uma composição musical sobre Colombo e o continente americano, mudou de idéia.
A perspectiva ainda foi expandida quando soube que haveria um concurso para uma cantata sobre o mesmo tema em Chicago. A peça seria apresentada durante a Grande Exposição Industrial que haveria naquela cidade ainda em 1892. Pensando na possibilidade de utilizar a mesma obra, com adequações aqui e ali, tanto para Gênova como para Chicago, Carlos Gomes iniciou a composição de Colombo.
Começou a trabalhar arduamente em Milão e adaptou o libreto do amigo e deputado Aníbal Falcão, que teve o nome mudado para Albino Falanca para facilitar a pronúncia em italiano.
Entretanto, em Gênova o poderoso Giuseppe Verdi impôs uma ópera do compositor italiano Alberto Franchetti, fechando todos os caminhos para outros compositores. Sem essa possibilidade, e devido a uma série de problemas que impediram a apresentação da peça em Chicago, Colombo, agora definido como Poema Vocal-Sinfônico, estreou no Rio de Janeiro, mas não foi bem recebido.
Um dos fatores que mais contribuiu para o desagrado do público foi o formato de Colombo, pois o que se esperava era a encenação de uma ópera tradicional, com cenários, figurinos, a orquestra no fosso e efeitos cenográficos. Mas Colombo não tinha nada disso, além da ausência de cenários e figurinos, os solistas estáticos empunhavam suas pastas de música frente a um maestro que também estava no palco e não no fosso, tendo ao fundo o coro e a orquestra, todos vestidos como qualquer um da plateia.
LO SCHIAVO
• 5 danças, ato II
• Aria Iberé, ato IV scena V “Sospettano di me – sogni d´amore”
• Romanza Ilara, ato IV scena V. “Oh come splendido...Come serenamente”
• Aria Ilara, ato III scena I. “Alba dorata...O ciel di Parahyba”
• Duetto Ilara - iberé “La stella dell´amor...Fra Questi Fior Che Adori”
Lo Schiavo estreou no Rio de Janeiro em 1889 após uma série de problemas na Itália, sendo o argumento abolicionista do Visconde de Taunay foi totalmente descaracterizado. Os escravos negros foram transformados em índios e a ação, que originalmente se passava em 1801, foi transferida para 1567, o que tornou o libreto bastante inverossímil. Mas isso não impediu o compositor de escrever um de seus mais belos trabalhos, pleno de momentos inspirados.
Nesta ópera destaca-se a Alvorada, uma das composições mais elaboradas de Gomes na qual, através de uma excepcional orquestração, descreve um amanhecer. Podemos ouvir os primeiros cantos dos pássaros e sentir, através da música, o paulatino nascer do dia até a explosão final com a chegada do sol. A obra começa com poucos instrumentos, outros vão se agregando num crescendo que termina em fortíssimo com a orquestra completa.
Lenita W. M. Nogueira
sobre Carlos Gomes