Autores e Obras
09/07/2011
WOLFGANG AMADEUS MOZART (Salzburgo, 1756-Viena, 1791)
A Flauta Mágica – Abertura KV 620
A morte precoce de Mozart aos 35 anos nunca foi esclarecida, mas várias hipóteses foram levantadas, desde envenenamento pelo rival Salieri (hoje descartada) até febre reumática. Entretanto, pesquisas recentes atribuem sua morte a uma doença decorrente de um surto epidêmico que ocorreu em Viena. Se aquele ano de 1791 não acabou para ele, que faleceu no dia cinco de dezembro, sua produção musical foi brilhante: compôs várias obras, entre as quais as óperas La clemenza di Tito (para a coroação de Leopold II como rei da Boêmia) e A flauta mágica (um singspiel, gênero de ópera germânica que envolve fala e canto) e parte do Requiem, que deixou incompleto.
Acredita-se que o empresário e ator Emanuel Schikaneder tenha apresentado a Mozart, por volta de 1789, um libreto que estava adaptando a partir do conto Lulu oder Die Zauberflöte. Devido às dificuldades financeiras em que vivia, Mozart assumiu o projeto, embora já tivesse recebido a encomenda para escrever La clemenza di Tito. A composição, que começou em julho de 1791, foi interrompida para que o compositor terminasse e participasse dos ensaios da Clemenza, mas mesmo assim concluiu rapidamente A Flauta Mágica, que estreou no dia 30 de setembro, apenas dois dias após a conclusão da abertura.
Afirma-se que com A Flauta Mágica Mozart teria prestado um tributo à maçonaria, à qual tanto ele como Schikaneder eram ligados. De fato, símbolos maçônicos são recorrentes na obra e se manifestam já nas primeiras notas da abertura. As personagens também seriam alegorias maçônicas.
A abertura tem uma introdução lenta com acordes que atuam como uma espécie de convocação. No fim da exposição, já em movimento mais rápido, madeiras e metais tocam três acordes fortíssimos na ordem breve-longo-breve. Estes vão reaparecer no segundo ato da ópera entoado pelos sacerdotes e esta é a única referência que se faz aos temas da ópera na abertura. O primeiro motivo em Allegro, um fugato, foi emprestado de uma sonata para piano de Muzio Clementi (1752-1832).
Concerto para Flauta e Orquestra n° 2, em Ré maior, K. 314
Em dezembro de 1777 Mozart estava na cidade de Mannhein em busca de uma colocação, já que havia abandonado abruptamente seu posto em Salzburgo. Escreveu ao pai contando que seu amigo Johann Baptist Wendling, flautista principal da orquestra daquela cidade, havia se aproximado de Ferdinand De Jean, um abastado homem de negócios e flautista amador, que pagaria uma boa soma por três concertos para flauta e quatro quartetos para flauta, violino, viola e violoncelo de pouca dificuldade técnica, para seu próprio uso.
Mozart começou a escrever as peças rapidamente, pois deveriam estar prontas antes que De Jean fosse para Paris em fevereiro de 1778, mas não conseguiu completar a tarefa a tempo e, ao que tudo indica, entregou apenas três quartetos e dois concertos. Vivia um período estafante e ainda era pressionado pelo pai para que largasse tudo e fosse tentar a vida em Paris. Escreveu a ele: “Não é surpreendente que eu tenha sido incapaz de terminar estas peças, pois eu nunca tenho uma única hora de sossego aqui... Além disso, o senhor sabe que eu fico sem forças quando sou obrigado a escrever para um instrumento que não suporto.” A aversão demonstrada pela flauta seria na verdade uma reação ao fato de que De Jean havia achado o segundo movimento do Concerto n° 1 em Sol Maior muito difícil e solicitou outra peça para substituí-lo. Mozart escreveu o Andante em Dó Maior, K. 315, mas ficou decepcionado e desinteressou-se pela encomenda, que nunca foi concluída.
No caso do segundo concerto para flauta que fazia parte da encomenda Mozart resolveu nem mesmo escrever uma peça original. O que apresentou a De Jean como o Concerto n° 2 para flauta e Orquestra em Ré maior era na verdade uma transposição do Concerto para Oboé em Dó Maior que havia composto para o oboísta da corte de Salzburgo, Giuseppe Ferlendis. Este o deu como presente para o seu líder Friedrich Ramm, que, de acordo com Mozart, ficou encantado com a composição. O problema é que Ramm divulgou amplamente a obra e a executou diversas vezes naquele ano de 1777. Ao receber o concerto De Jean logo descobriu que se tratava de uma obra reciclada, um arranjo, não uma peça original. Ficou furioso com o compositor e se recusou a pagar a comissão devida, o que deve ter contribuído para que Mozart passasse a não ter a flauta entre seus instrumentos prediletos, embora tenha escrito trechos magníficos para este instrumento.
Sinfonia n° 41 em Dó Maior, K. 551, “Júpiter”
Segundo o musicólogo inglês, Sir George Grove, a Sinfonia n° 41 “é a maior peça orquestral que precede a Revolução Francesa”. Escrita em Viena em poucas semanas em 1788, esta foi a última sinfonia de Mozart e há discrepâncias sobre a estreia, alguns dizendo que nunca foi apresentada durante sua vida, outros afirmando que ela estreou em Dresden ou Leipzig em 1789, sob a regência do compositor.
O clima dessa obra é brilhante e triunfante, contrastando com a atmosfera mais pesada da sinfonia anterior, a de número 40 em Sol menor, embora ambas tenham sido escritas na mesma época. O mecenas de Haydn, o empresário Johann Peter Salomon, considerava esta sinfonia como “o maior triunfo da composição instrumental”, uma obra olímpica, daí o subtítulo “Júpiter”.
A Sinfonia n° 41 não possui introdução, o tema é apresentado imediatamente, construído a partir de dois subtemas, um que oscila entre agitação e tranquilidade e outro de caráter mais leve. O segundo movimento, Andante Cantabile, é bastante expressivo e as melodias de grande beleza, em especial a primeira, introduzida pelas cordas. Uma passagem executada pelos fagotes conduz a um segundo tema nos oboés. Após um belo desenvolvimento, o movimento chega ao fim com reapresentação da melodia inicial. O terceiro movimento, Minueto e Trio – Allegretto, é um daqueles trechos que só poderiam ter sido escritos por Mozart, onde qualquer comentário é redundante. O Trio, a parte central, segue o mesmo caráter jovial e é seguido pela repetição do minueto.
O cume da obra mozartiana pode ser encontrado no último movimento de sua última sinfonia. No Finale, Allegro molto, Mozart apresenta completamente o seu gênio e sua técnica ao escrever um movimento fugato, digno da pena de Johann Sebastian Bach. É baseado em quatro temas, sendo que o primeiro teria sido emprestado de uma canção de sua própria autoria. Após ser apresentado o segundo tema, o compositor retorna ao primeiro, tratando-o como uma fuga, que é seguida pelo terceiro e quarto temas. Através da exploração de diversas subunidades temáticas agrupadas em forma de fuga, o discurso é encaminhado para o vistoso final.
Sobre este último movimento, George Grove escreveu: “é para o final que Mozart reservou todos os recursos de sua ciência, e todo o poder, o qual ninguém parece ter possuído no mesmo grau que ele, de conciliar essa ciência e fazê-la veículo para música tão genial como a que ele criou. Em nenhum lugar ele realizou mais.”
Lenita W. M. Nogueira