CONCERTO 25 E 26 DE OUTUBRO - COMPOSITORES, VIDAS E OBRAS

Sinfônica executa obra de Padre José Maurício

Como é sua tradição, a Sinfônica de Campinas inclui em seus programas obras de compositores brasileiros quer sejam conhecidos do grande público ou não. No entanto isso não implica que tenham pouco valor, como é o caso da obra “Abertura em Ré” de José Maurício Nunes Garcia, ou simplesmente padre José Mauricio, um dos mais importantes autores do período colonial.



O Notas Musicais traz informações sobre os autores e suas obras, com texto da professora Lenita Nogueira.

Os autores


JOSÉ MAURÍCIO NUNES GARCIA (Rio de Janeiro, 1767-1830)

Abertura em Ré
Os músicos do Brasil colônia eram pessoas humildes, em geral mulatos, que buscavam, através da “arte da muzica” ascender socialmente dentro da rígida estratificação vigente. A igreja era o porto seguro, já que não havia cerimônia religiosa sem música. A posição principal cabia ao mestre-de-capela, músico contratado pela igreja com múltiplas funções como compor música, realizar cópias de partituras de outros compositores, ensaiar coro e orquestra, reger, tocar vários instrumentos, ensinar música a meninos e em geral, contratar e pagar músicos.

Esse era o ofício do padre José Maurício na Catedral e Sé do Rio de Janeiro a partir de 1798. Órfão, mulato e pobre, abraçou a carreira religiosa para poder dedicar-se à música e escreveu uma das mais belas páginas da música brasileira. Em 1808, a chegada da corte de Dom João VI provocou substancial incremento na atividade musical do Rio de Janeiro com a criação da Capela Real, para onde José Maurício foi transferido. Entretanto, um novo gosto musical passou a ser cultivado e o padre-mestre acabou por adaptar-se aos novos tempos e à ópera italiana, que dominava o período.

O termo abertura aqui não significa um trecho que antecede uma ópera, mas trata-se de peça autônoma, escrita provavelmente como introdução de algum espetáculo cênico ou elogio dramático. A data da composição da Abertura em Ré (também conhecida como Sinfonia em Ré) é incerta, mas a sua existência tem uma forte ligação com Campinas, já que, com o extravio dos manuscritos originais, a obra sobreviveu unicamente graças às cópias de Manuel José Gomes (Santana de Parnaíba, 1792-Campinas, 1868), mestre-de-capela em Campinas de 1815 até 1868, e, em menor número, de seu filho Sant’Anna Gomes (Campinas, 1834-1908), respectivamente pai e irmão de Carlos Gomes.

Embora a maior parte da produção musical de José Maurício seja sacra, temos o registro de que teria escrito uma ópera, Le due gemelle, infelizmente desaparecida, e quatro peças sinfônicas: além da Abertura em Ré, escreveu Abertura Zemira, Sinfonia Tempestade e Sinfonia Fúnebre. Embora não se saiba para que fim foram escritas, estas obras marcam bravamente o início da composição sinfônica no Brasil.


wolfgang amadeus mozart

Concerto para oboé, em Dó Maior, K.314

Leopold Mozart (1719-1787), além de pai de Wolfgang, era compositor, professor e violinista a serviço do príncipe-arcebispo de Salzburgo. Ao perceber a genialidade do filho, pediu licença ao patrão para viajar com o menino, então com cinco anos, em turnê pela Europa. O arcebispo concedeu a licença e Mozart apresentou-se para reis, príncipes e membros da nobreza e do clero.

Voltando a viver em Salzburgo, Mozart seguiu o caminho do pai, mas não lhe agradava escrever música cerceado pelas restrições impostas pelo arcebispo. Desejava ir tentar a sorte em Paris e em março de 1777 Leopold enviou um requerimento ao Arcebispo solicitando permissão para a viagem. Há indicações de que o pedido foi negado, já que a argumentação "aproveitar nossos talentos é algo que nos ensina o Evangelho", desagradou o patrão que respondeu: "Com isso, pai e filho receberam a permissão de procurar sua fortuna de acordo com o Evangelho." Isso queria dizer que ambos foram despedidos, mas o arcebispo voltou atrás e demitiu apenas o filho, que se viu livre para tentar a sorte em Paris.

Em 23 de setembro de 1777 Mozart, acompanhado de sua mãe, iniciou sua viagem. Chegaram a Munique no dia seguinte, seguindo posteriormente para Mannhein e Paris. Antes de sair de Salzburgo, Mozart já havia iniciado o Concerto para Oboé e Orquesta, tendo em mente o oboísta Ferlendis, que tinha se agregado ao grupo musical do arcebispo em abril daquele ano. Em Mannhein conheceu o oboísta Friedrich Ramm, membro da afamada orquestra da corte daquela cidade, e acabou por presenteá-lo com o mesmo concerto. Escreveu ao pai que Ramm havia ficado encantado com a obra, que havia se tornado o “cavalo de batalha” do oboísta.

Tempos depois, Mozart aceitou uma encomenda do flautista De Jean para escrever um Concerto para Flauta e Orquestra, mas ao perceber que não conseguiria entregar a obra a tempo, não teve outra saída senão arranjar para flauta o mesmo Concerto para Oboé.

Outra referência a este concerto está em uma carta, na qual Mozart solicita ao pai o livro onde estava o concerto para Ferlendis, pois tinha recebido uma excelente oferta por ele, vinda do oboísta de orquestra de Esterhaza, dirigida por Joseph Haydn. Esta soma seria duplicada se escrevesse um novo concerto para oboé, o que nunca aconteceu.

Tempos depois, Mozart aceitou uma encomenda do flautista De Jean para escrever um Concerto para Flauta e Orquestra, mas ao perceber que não conseguiria entregar a obra a tempo, não teve outra saída senão arranjar para flauta o mesmo Concerto para Oboé.

Outra referência a este concerto está em uma carta, na qual Mozart solicita ao pai o livro onde estava o concerto para Ferlendis, pois tinha recebido uma excelente oferta por ele, vinda do oboísta de orquestra de Esterhaza, dirigida por Joseph Haydn. Esta soma seria duplicada se escrevesse um novo concerto para oboé, o que nunca aconteceu.


FRANZ SCHUBERT (Viena, 1797-1828)

Sinfonia n° 6, em Dó Maior, D. 589

Schubert era filho de um professor e músico amador que costumava reunir os amigos para concertos em sua casa. Foi ele quem lhe ensinou violino, enquanto o irmão mais velho, Ignaz, aprendia piano. Percebendo que nada mais poderia ensinar ao filho, o pai o encaminhou ao organista Michael Holzer, que, espantado comentou: “Não posso ensinar-lhe nada novo, ele já sabe tudo. De maneira que na realidade não o ensino, apenas converso com ele dissimulando minha admiração.”

Aos onze anos Schubert entrou para o coro da Capela Imperial, onde recebeu educação musical refinada e começou a compôr. Mas havia em Viena uma sombra que intimidava a todos, conforme escreveu a um amigo: “Creio que também poderia escrever algo, mas como se pode escrever música depois de Beethoven?”

Em 1813 retornou à casa paterna e decidiu arrumar um emprego de professor. Ao lado do trabalho que considerava insípido e tedioso, dedicava-se à composição, produzindo um grande número de obras entre 1814 e 1816. Por essa época descobre o Lied, do qual seria um dos mais inventivos compositores.

A Sinfonia n° 6 foi escrita entre outubro de 1817 e fevereiro de 1818, período em que Schubert escreveu duas Aberturas em estilo italiano. Talvez por isso essa sinfonia tenha ecos da obra de Rossini, ao lado da influência de Beethoven.

Em uma apresentação em dezembro de 1828, ano da morte de Schubert, esta obra ganhou a alcunha de “Pequena Sinfonia em Dó Maior”, ao substituir a “Grande Sinfonia em Dó Maior” (n° 9, D. 944, 1826), considerada de difícil execução, em um concerto no Vienna Gesellschaft der Musikfreunde.

Schubert nunca ouviu a maioria de suas obras, não conseguia sobreviver de sua arte e sempre viveu apoiado financeiramente pelos amigos. Faleceu na miséria em novembro de 1828, pouco tempo depois de Beethoven, quando, livre da sombra dominadora deste, poderia ter assumido o seu lugar.

Foi sepultado no cemitério de Viena e apenas três sepulturas o separavam do seu ídolo, Beethoven. Tempos depois seus restos mortais foram trasladados para uma nova sepultura, vizinha à de Beethoven e em 1897 Johannes Brahms veio juntar-se a eles. A inscrição na lápide de Schubert resume a tragédia de sua existência: “A música enterrou aqui um rico tesouro e esperanças ainda mais belas.”

Lenita W. M. Nogueira

 

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