CONCERTO ESPECIAL - AUTORES
Concerto de 04 de outubro – Compositores e suas vidas
Além de Igor Leão Maia, três importantes compositores de diferentes períodos fazem parte do programa do concerto que tem regência do maestro Karl Martin. O Notas Musicais traz informações sobre os autores e suas obras, com texto da professora Lenita W. M. Nogueira.
IGOR LEÃO MAIA (Campinas, 1988)
Dispersões para violino, cordas e percussão
Maia começou sua carreira como violinista em 1997 na Martin Luther King School em Providence nos Estados Unidos. Em 1998 retornou ao Brasil, onde continuou seus estudos de violino na UNICAMP e iniciou sua carreira de compositor. Em 2004 transferiu-se para Plymouth na Inglaterra onde estudou violino com Fiona Mc Lean e composição com Patrício da Silva. Duas de suas obras estrearam na Universidade de Plymouth e parte de sua Sonata para Cordas foi executada pela Orquestra Sinfônica Jovem da UNICAMP em 2006. Neste mesmo ano foi admitido no curso de bacharelado em composição no Conservatório Real de Haia, Holanda, onde estuda atualmente sob orientação de Diderik Wagenaar, Cornelis de Bondt e Gilius van Bergeijk.
Sua obra Funeral Memories foi finalista do concurso Jovens Compositores da Holland Symfonia (Holanda) e foi executada pela orquestra Holland Symfonia no Festival Gaudeamus (Amsterdam) em 2007. Participou do “Spring Festival” de Haia nos anos de 2007 e 2008.
Desde 2007 cursa regência com o maestro Jos Vermunt e dirigiu concertos de música latina com alunos do conservatório de Haia em 2007 e 2008. Também regeu a Orquestra Filarmônica Nazarena de Campinas. Sua peça Horizontes foi executada em Maio de 2008 na Muziekgebouw em Amsterdam.
Segundo o compositor,Dispersões “é uma obra que incorpora relações de espaço e de tempo. Ela foi escrita para violino solo, conjunto de cordas e percussão e é dedicada a Samuel Lima, violinista que incentivou a criação da obra. A obra foi escrita no começo dos meus estudos na Holanda em um momento de transição da minha escrita musical, possuindo assim as mais diversas influências. De uma forma geral, nessa obra, as idéias musicais são dispersas pelo conjunto instrumental (vertente espaço) e no decorrer da peça (vertente tempo).
O tema, tratado no começo quase como uma série, começa a adquirir novas formas e é interrompido por comentários da orquestra, esses mesmos comentários por sua vez são dispersos da mesma forma que o tema, isto é, sua estrutura é espalhada temporalmente pela orquestra. A obra tem um total de quatro seções, com uma transição e uma cadência. Todas as seções possuem elementos de dispersão, o que é um elemento unificador da obra.”
GAETANO DONIZETTI (Bérgamo, 1797-1848)
Sinfonia para sopros
Donizetti é amplamente conhecido como compositor de óperas e formou, ao lado de Vincenzo Bellini e Gioacchino Rossini, o tripé da composição operística antes do aparecimento de Giuseppe Verdi. Entretanto Rossini, após tornar-se um dos mais famosos compositores de seu tempo, aos trinta e dois anos, já milionário, resolve abandonar a composição para dedicar-se aos prazeres da culinária. Já Bellini faleceu precocemente e por algum tempo Donizetti foi o único compositor de óperas reconhecido até o aparecimento de Giuseppe Verdi.
Sua primeira ópera foi Enrico di Borgogna, 1818, foi bastante influenciada pela obra de Rossini, como, aliás, grande parte de sua obra. Somente a partir de Anna Bolena (1830) é que o compositor começa a imprimir sua marca em obras como L’elisir d’amore (1832), Lucrezia Borgia (1933) e, principalmente, Lucia de Lammermoor (1935), na qual as situações melodramáticas e as paixões violentas são expressas por música fortemente colorida e cheia de virtuosismos vocais.
Após uma temporada de sucesso em Nápoles, Donizetti, a partir de 1838, passa a residir em Paris, onde escreve óperas com libretos em francês, com destaque para La Fille du règiment (1840), La Favorite (1840) e Don Pasquale (1843), sua segunda ópera bufa.
Por volta de 1843 o compositor começa a sofrer de paralisia e problemas mentais, até que em 1846 é internado em um hospital psiquiátric Ivry. No ano seguinte é transportado para sua cidade natal, onde vem a falecer em 1848.
Além de setenta e duas óperas, escreveu ainda vinte e oito cantatas, quinze sinfonias, treze quartetos de cordas e uma grande quantidade de música sacra e instrumental. Sinfonia para Sopros é uma peça de sua juventude, escrita em 1817.
AARON COPLAND (Nova York, 1900-1990)
Quiet city, para corne inglês, trompete e cordas
Um dos compositores norte-americanos mais reconhecidos durante o século XX, Copland estudou em Paris com Nadia Boulanger, mas suas primeiras obras eram ligadas à linguagem do jazz e bastante dissonantes. Posteriormente desenvolveu um estilo próprio que combina texturas mais simples, melodias diatônicas e harmonias mais suaves. Ligado à tendência nacionalista, incorporou elementos folclóricos em obras como El Salón Mexico (1932-36) ou os balés Billy the Kid (1938) e Rodeo (1942).
Escreveu Quiet City como música incidental para uma peça de Irving Shaw, apresentada em 1939, sob a direção de Elia Kazan. Na peça um jovem trompetista que imaginando os pensamentos dos habitantes de uma grande cidade, tocava seu instrumento, expressando seus sentimentos sobre eles. A peça foi um grande fracasso e logo saiu de cartaz. O produtor mais tarde disse que “tudo o que restou da peça foi a bela música de Aaron Copland.”
No ano seguinte o compositor decidiu juntar as partes e escrever uma peça única e mudou a orquestração original, para quarteto de clarinetas, saxofone, trompete e piano, para um amplo grupo de cordas, trompete e corne-inglês. Esta peça foi apresentada em 1941 com a Siadenberg Little Symphony em Nova York.
A peça evoca as introspecções dos habitantes de uma grande cidade, começando com o silêncio da madrugada e chegando ao clímax, retornando ao clima de silêncio novamente. O som do trompete ao longe, ligado ao tom escuro do corne-inglês. Vão e voltam contra o som claro das cordas, em uma sensação de nostalgia, melancolia, lamentos e ansiedades, que perturbam os indivíduos em uma sociedade urbana à noite.
De acordo com Copland, a peça era “uma tentativa de espelhar o caráter atormentado do homem da peça de Irving Shaw”, que havia abandonado o judaísmo e suas aspirações poéticas para perseguir sucesso material anglicizando seu nome, casando-se com uma mulher bastante rica e tornando-se diretor de uma loja de departamentos. O homem, entretanto, continua a ser chamado em sua consciência pelo som de um trompete tocado por seu irmão. Copland afirma ainda que “Quiet City parece ter se tornado uma entidade musical, superando as razões originais da composição” devendo muito de seu sucesso à sua escapada dos detalhes dramáticos do texto.
ARTHUR HONEGGER (Le Havre, França, 1892-Paris, 1955)
Sinfonia n° 2, para cordas e trompete ad libitum
Nascido durante uma viagem, Honegger, de família suíça, nasceu durante uma viagem de navio. Seu pai era um importador em Zurique e sua mãe uma excelente pianista. Foi nesta cidade que começou seus estudos de música, mas os concluiu no Conservatório de Paris, onde foi colega de Darius Milhaud.
Sua primeira obra, Le dit de jeux du monde, música para um divertimento representado em 1918 no teatro Vieux-Colombier, sede de uma série de concertos de um grupo que se chamava Les noveaux jeunes, que o crítico H. Collet em 1920 batizou de Grupo dos Seis, como ficou mais conhecido. Além de Honegger, faziam parte do grupo os compositores Darius Milhaud, Francis Poulenc, Geroges Auric, Louis Durey e Germaine Taillaferre. A proposta do grupo, que tinha como porta-voz Jean Cocteau, era, grosso modo, uma composição musical desvinculada da influência Richard Wagner e Claude Debussy.
Embora pertencesse ao grupo, Honegger manteve uma independência estética e o reconhecimento veio após a composição de Pacific 231 - Movimento Sinfônico n° 1, uma obra inspirada por sons e ritmos de uma locomotiva. Outra peça bastante conhecida do compositor é Rugby - Movimento Sinfônico n° 2. Também é bastante conhecida Rei Davi, de 1921, a partir da qual o compositor desligou-se de escolas e modas, passando a compor segundo seu gênio.
Durante os anos de Segunda Guerra Mundial, Honegger escreveu música para filmes, deu aulas na École Normale de Musique e fez muitas viagens para Zurique, onde a Sinfonia n° 2, composta em Bâle entre 1940 e 1941, foi apresentada pela primeira sob a regência de Paul Sacher à frente do Collegium Musicum em 18 de maio de 1942.
Com uma formação instrumental pouco comum na música sinfônica (cordas e trompette ad libitum [à vontade] por dezesseis compassos no final da peça), a Sinfonia n° 2 de reflete um momento trágico da história da Europa. Com um estilo expressionista, no qual o compositor mistura linguagens e técnicas de seu tempo, escrevendo música a serviço de uma concepção humanista, em sintonia com as grandes questões do século XX.
Lenita W. M. Nogueira
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